sábado, 5 de dezembro de 2009

Conservação da Biodiversidade

Durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Eco-92), em 1992, cerca de 175 países, incluindo o Brasil, assinaram a Convenção da Diversidade Biológica (CDB), que foi ratificada em 1994, pelo Brasil. A partir daí foram traçados planos de estratégia para a conservação e uso sustentável da biodiversidade, de modo a atender as exigências da CDB.


O Pantanal possui características únicas no planeta. Com uma área de 140 mil km2 - apenas no território nacional - está localizado nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, mas chega até a Bolívia e o Paraguai. Compartilha fauna e flora da Amazônia, do cerrado e do charco (área alagada). Apesar de sua inegável importância, apenas 0.55% de seu território é protegido por meio de Unidades de Conservação federais.
Com a finalidade de conservar a biodiversidade da região a
Fundo Mundial para a Natureza (WWF) , uma organização não-governamental norte-americana, iniciou em julho de 1998 o projeto Pantanal para sempre que envolve diversos estudos científicos, além de mobilizar a sociedade nas questões ambientais e procurar assegurar o compromisso dos setores públicos e privado no financiamento e políticas públicas para apoiar a conservação. Está previsto para este mês, a divulgação das áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade na região do pantanal.

A região da caatinga corresponde a uma área de cerca de 734.478 km2 e inclui parcialmente os estados do Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais. O bioma faz parte de um ecossistema que restringe-se ao Brasil. Geralmente tem sido descrito como tendo baixa biodiversidade, com poucas espécies endêmicas (que ocorrem apenas naquela região) e, portanto, de baixa prioridade para conservação. No entanto, a região é ainda pouco estudada, e há pesquisadores que contestam esse dado. Segundo a professora Maria Jesus Nogueira Rodal, da Universidade Federal Rural de Pernambuco, já foram identificadas cerca de 300 espécies de plantas típicas da caatinga. Atualmente ela vêem desenvolvendo um projeto que analisa a diversidade em comunidades vegetais da caatinga, dentro de uma da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Maurício Dantas, em Pernambuco, e que encontrou vestígios de que este bioma é formado por um mosaico vegetacional (grande heterogeneidade espacial de espécies).
Infelizmente, apenas 3.56% da área deste bioma está protegida como unidades de conservação federais. As RPPN exercem papel de grande importância na preservação da caatinga. Nos últimos anos vêm crescendo o interesse de proprietários rurais em ter parte de sua propriedades protegidas. Hoje, existem cerca de 24 RPPN, sendo que metade tem acima de 1.000 hectares.
O cerrado atinge 10 estados brasileiros, numa área que corresponde a 22% do território nacional. Considerado um hotspot (áreas em que há alto grau de endemismo) da biodiversidade, o cerrado tem importância fundamental já que é uma área transitória entre a floresta Amazônica, a caatinga e a Mata Atlântica. Entretanto, tem sido muito explorado por agricultores e pecuaristas. "Realmente, a pressão econômica em cima do uso dessas áreas é muito grande. A proteção que é dada é tão frágil que a não ser que tenha uma mudança relativamente rápida, acho que será muito difícil preservar áreas de cerrado", alerta o botânico, George shepherd, da Unicamp.
Poucas são as reservas do cerrado. Dependendo da localização, existe uma diversidade diferente de espécies. Cerca de 44% das espécies de plantas são endêmicas. Para shepherd, o cerrado é a vegetação que mais está desaparecendo. Trata-se de uma vegetação extremamente vulnerável, já que é de fácil cultivo.
A Fundação Emas, ONG que reúne a administração do Parque das Emas e a Conservation International do Brasil (CI), vêm desenvolvendo o projeto Corredor Pantanal e Cerrado, próximo ao Parque Nacional das Emas, em Goiás. A área é considerada chave para a conservação do cerrado. O projeto, iniciado em 2000, deverá ser concluído em 2005. Conta com um investimento de cerca de U$5 milhões, administrados pela CI e distribuídos entre os colaboradores do projeto: Ibama; Embrapa; outras ONGs; a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (GO, MS); a Universidade Federal de Goiás, entre outros.



A idéia da criação do corredor objetiva conhecer a biodiversidade local e garantir que as populações existentes em torno do parque tenham chance de contato com as populações animais e vegetais do Pantanal, para que haja maior fluxo gênico. Este fluxo é fundamental para preservar as diferenças gênicas existentes em uma mesma espécie, essencial para garantir a sua sobrevivência e adaptação a possíveis mudanças do ambiente.
A principal estratégia para facilitar o corredor é a utilização da legislação existente, sem necessidade de desapropriação de terras. Isso significa fazer uso das áreas de reserva legal, preservação permanente (que engloba beira de rio, encosta, área de declividade, topo de morros), além de mais 20% das áreas privadas, que também são destinadas à preservação permanente, embora a maioria dessas propriedades ainda não esteja legalizada.



Distribuída por 17 estados brasileiros, a Mata Atlântica é hoje o bioma mais ameaçado do Brasil. Hoje encontra-se em áreas fragmentadas equivalente a 7,6% da área original, muito embora ainda seja responsável por uma parcela significativa da biodiversidade brasileira, com grande incidência de espécies endêmicas. O Projeto "Mata Atlântica: Avaliação dos esforços de Conservação, Recuperação e Uso Sustentável dos Recursos Naturais" é um dos primeiros a reunir e cadastrar as experiências realizadas por órgãos públicos, ONGs, empresas públicas e privadas, universidades, escolas, instituições de pesquisa, movimentos sociais, sindicatos, associações profissionais, cooperativas e demais organizações, nos últimos dez anos. O projeto é uma aliança entre o SOS Mata Atlântica e a Conservation International do Brasil.
Embora, a cada ano, mais projetos de conservação e uso sustentável da biodiversidade são desenvolvidos no país, ainda faltam informações mais precisas, como informações geográficas, para as espécies que são documentadas. Segundo o botânico shepherd, mesmo para São Paulo, provavelmente um dos estados em que se tem melhor conhecimento da biodiversidade, ainda está muito longe de ter o que poderíamos chamar de conhecimento da flora. "Ainda usamos a Flora Brasiliensis (livro de taxonomia floral publicado em 1840) como base para muitas pesquisas de identificação. Demorou mais de 60 anos para ser terminado e consta cerca de 22 mil espécies". shepherd fez várias estimativas para a quantidade de espécies de plantas no Brasil e o mais próximo que chegou foi algo em torno de 45 mil espécies, talvez 50 mil de plantas superiores, que produzem sementes, dependendo de como a estimativa for feita.

O Projeto Tamar, criado em 1980 em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), é uma das inciativas que está dando certo. Em mais de 20 anos de existência equipes profissionais, que contam com a participação das comunidades locais, conseguiram manter vivas em torno de 4 milhões de tartarugas marinhas, ameaçadas de extinção. Na lista de espécies em risco estão a tartaruga oliva (Lepidochelys olivacae), a cabeçuda (Caretta caretta), a verde (Chelonia mydas), a de pente (Eretmochelys imbricata) e a de couro (Dermochelys coriacea). Foram anos buscando formar uma consciência geral e que envolveram as comunidades, universidades, centros de pesquisa, empresas e parcerias que dão sustentação às ações.

No Norte do País, existem os projetos do Peixe-Boi e o de proteção de quelônios (tartarugas) de água doce, que também funciona em Goiás - na vazante dos rios da Bacia Amazônica e as sub-bacias dos rios Araguaia e Tocantins - e no Mato Grosso. Em 21 anos, o Projeto Quelônios soltou na natureza mais de 30 milhões de filhotes de tartarugas - como a da Amazônia e a tracajá -, como informa o biólogo Isaías José Reis, técnico da área de criação de quelônios em cativeiro do Centro Nacional de Quelônios da Amazônia (Cenaqua/Ibama), sediado em Goiânia (GO).
Ele destaca que os turistas e os pescadores são os que mais dificultam o trabalho. Na região Norte, esclarece o biólogo, existe o costume de se comer tartarugas (que já começam a ser servidas também em restaurantes de outros estados). Criações comerciais, monitoradas pelos técnicos, procuram evitar a pesca predatória. A médica veterinária e integrante da coordenação da área técnica do Cenaqua, Vera Lúcia Ferreira Luz, diz que há 80 criadouros comerciais registrados no Norte e no Centro-Oeste, 21 deles em fase de comercialização. O objetivo é educar a população para proteger as espécies e para fazer o manejo de maneira autônoma. Há, nas duas regiões, 115 sítios reprodutores de quelônios.
Com mais de 20 anos, o Projeto Peixe-Boi levou pesquisadores, técnicos e fiscais a dar ao peixe-boi chances de sobrevivência, sustentado por estudos, campanhas educativas e dedicação das pessoas envolvidas. Em 1998, o Centro Peixe-Boi/Ibama transformou-se em Centro Nacional de Pesquisa, Conservação e Manejo de Mamíferos Aquáticos, voltado para a proteção dos dois tipos de peixe-boi encontrados no País, o peixe-boi marinho, na costa nordeste, e o peixe-boi da Amazônia. No entanto, a população desses animais ainda diminui com o passar do tempo, devido à degradação do seu habitat.
O estado do Paraná, apesar de ter uma costa marinha reduzida, sedia vários projetos de preservação de golfinhos, jacarés, aves e a criação de recifes marinhos artificiais. Os responsáveis são, desde 1997, a ONG Ecoplan, em conjunto com o Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Assim, busca-se garantir a sobrevivência de vários peixes, entre eles o mero, que pode pesar até 250 quilos e está na lista de animais em extinção. Por meio da recriação de ambientes naturais, permite-se a existência de outros animais, como esponjas, crustáceos, pequenos corais e moluscos.



Apesar da intangibilidade da natureza e da dificuldade em quantificar seu valor, existem várias iniciativas acadêmicas, nacionais e internacionais de ongs ou governamentais que buscam determiná-lo. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) está desenvolvendo desde 1999, com assessoria de consultores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) , um projeto para calcular o valor da biodiversidade brasileira, como parte do Programa de Valoração Econômica da Natureza, incluído no Programa Plurianual do governo.

Manter a biodiversidade contribui para deter o aquecimento global

Conservar a biodiversidade também é conservar o clima. As florestas são como uma máquina de absorção de calor e de reserva de carbono. De 15% a 20% da água liberada pelos rios de todo o mundo vêm do rio Amazonas. O desmatamento é o principal responsável pelo Brasil estar em quarto lugar mundial entre os maiores emissores de gases de efeito estufa, os causadores do aquecimento do planeta.

O aquecimento global recente tem impactos ambientais intensos (como o derretimentodas geleiras e calotas polares), assim como em processos biológicos (como os períodos defloração)


Algumas conseqüências notáveis do aquecimento global foram já observadas, como oderretimento de geleiras nos pólos e o aumento de dez centímetros no nível do mar em umséculo. Uma tendência de aquecimento em todo o mundo, especialmente nas temperaturasmínimas, em grandes cidades do Brasil como São Paulo e Rio de Janeiro, pode ser agravadapela urbanização. Os modelos globais de clima projetam para o futuro, ainda com algum graude incerteza, possíveis mudanças em extremos climáticos, como ondas de calor, ondas de frio,chuvas intensas e enchentes, secas, e mais intensos e/ou freqüentes furações e ciclones tropi-cais e extratropicais.


A Terra sempre passou por ciclos naturais de aquecimento e resfriamento, da mesmaforma que períodos de intensa atividade geológica lançaram à superfície quantidades colos-sais de gases que formaram de tempos em tempos uma espécie de bolha gasosa sobre oplaneta, criando um efeito estufa natural. Ocorre que, atualmente, a atividade industrial estáafetando o clima terrestre na sua variação natural, o que sugere que a atividade humana é umfator determinante no aquecimento.